Baixa autoestima, autenticidade e amadurecimento.

Autor: Bacellart Cazão , 21/12/2023 03:00:55 21/12/2023 03:00:55 (29 visualização)
Baixa autoestima, autenticidade e amadurecimento.

Sentimento de 'aquém de', de sentir-se mal julgado, de não reconhecer o que tem de bom.

A baixa autoestima é um estado psicológico marcado por sentimentos persistentes de inadequação, autocrítica excessiva e uma percepção distorcida de si mesmo. Este estado emocional geralmente envolve sentimentos de "aquém de", uma sensação de não atingir padrões, sejam eles internos ou impostos pela sociedade. Indivíduos com baixa autoestima frequentemente sentem-se mal julgados, tanto por eles mesmos quanto pelos outros, e lutam para reconhecer suas qualidades e realizações.

Essa percepção negativa de si mesmo pode ser influenciada por uma variedade de fatores, incluindo experiências passadas de fracasso, rejeição ou crítica, bem como comparações sociais desfavoráveis. A constante sensação de não ser bom o suficiente pode levar a um ciclo vicioso de autocrítica, onde os sucessos são minimizados e os fracassos são ampliados. Essa autopercepção negativa se manifesta em várias áreas da vida, como relações interpessoais, desempenho no trabalho ou escola, e bem-estar geral.

Para combater a baixa autoestima, é crucial reconhecer e desafiar esses pensamentos e crenças negativas. Terapias focadas em cognição e comportamento podem ser eficazes, ajudando o indivíduo a desenvolver uma autoimagem mais realista e positiva. Isso envolve aprender a identificar padrões de pensamento negativos, desafiar crenças irracionais e cultivar uma atitude mais gentil e compreensiva consigo mesmo. A autoaceitação e o reconhecimento dos próprios valores e qualidades são passos essenciais para superar a baixa autoestima e promover um senso de autovalor mais saudável.

A baixa autoestima é um fenômeno psicológico complexo que pode ser profundamente influenciado pelas experiências iniciais de vida de um indivíduo. A partir da perspectiva da psicanálise, especialmente através das teorias de Donald Winnicott, podemos ganhar insights significativos sobre as origens e manifestações da baixa autoestima. Winnicott, um psicanalista e pediatra britânico, é amplamente reconhecido por suas contribuições ao entendimento do desenvolvimento emocional e da construção do self.

Verdadeiro Eu vs. Falso Eu

Um conceito central na obra de Winnicott é a distinção entre o “verdadeiro eu” e o “falso eu”. O verdadeiro eu é a expressão autêntica do self, caracterizada pela espontaneidade, criatividade e sentimento de estar vivo. O falso eu, por outro lado, é uma construção defensiva que emerge em resposta às demandas do ambiente e às expectativas dos cuidadores. O falso eu age como um intermediário entre o verdadeiro eu e o mundo externo, protegendo o verdadeiro eu, mas ao custo de suprimir suas expressões genuínas.

Desenvolvimento da Baixa Autoestima

De acordo com Winnicott, a baixa autoestima pode ser o resultado de um falso eu excessivamente dominante. Quando as necessidades emocionais de uma criança não são atendidas adequadamente por seus cuidadores, ela pode começar a se adaptar ao seu ambiente de uma forma que negligencia ou esconde seu verdadeiro eu. Isso pode ocorrer em famílias onde as expressões emocionais são desencorajadas ou em ambientes que valorizam o desempenho e a conformidade acima da expressão autêntica.

A criança, em um esforço para obter amor e aprovação, pode desenvolver um falso eu robusto, que se torna a principal forma de se relacionar com o mundo. No entanto, esse falso eu é frequentemente marcado por uma sensação de vazio e inautenticidade, pois não reflete a verdadeira natureza do indivíduo. Essa desconexão entre o verdadeiro eu e o comportamento apresentado ao mundo pode levar a uma persistente baixa autoestima, pois o indivíduo se sente incapaz de ser valorizado por quem ele realmente é.

O Ambiente Facilitador

Para Winnicott, um "ambiente facilitador" é crucial para o desenvolvimento saudável do verdadeiro eu. Um ambiente facilitador é aquele em que os cuidadores respondem de maneira sensível e adequada às necessidades da criança, promovendo um espaço onde o verdadeiro eu possa se expressar e crescer. A falta de um ambiente facilitador pode levar a um desenvolvimento mais proeminente do falso eu, contribuindo para a emergência da baixa autoestima.

A Importância do Brincar

Outro aspecto fundamental da teoria de Winnicott é a ênfase no brincar como um meio essencial para a expressão do verdadeiro eu. No brincar, a criança experimenta a liberdade, a espontaneidade e a criatividade, permitindo que seu verdadeiro eu se manifeste. Quando o brincar é restrito ou quando não há espaço para a expressão criativa, o desenvolvimento do verdadeiro eu pode ser prejudicado, impactando negativamente a autoestima.

Tratamento Psicanalítico

No contexto terapêutico, a abordagem de Winnicott para tratar a baixa autoestima envolve a criação de um ambiente terapêutico que simula o ambiente facilitador ideal. O terapeuta procura fornecer um espaço seguro e acolhedor onde o verdadeiro eu do paciente possa emergir. Através da relação terapêutica, o paciente é encorajado a explorar e expressar aspectos do verdadeiro eu, diminuindo a dependência do falso eu. Este processo pode levar a uma maior integração do self e a uma melhoria na autoestima.

Conclusão

Em resumo, a abordagem de Winnicott para a baixa autoestima é enraizada em sua compreensão do desenvolvimento do self e da dinâmica entre o verdadeiro eu e o falso eu. A baixa autoestima é vista como um sintoma de um desequilíbrio entre esses dois modos de ser.

 

 

 

 


 

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