Como a Neurociência pode ajudar na superação da ansiedade e do estresse

Autor: Dirce Proença , 15/10/2025 (112 visualização)
Emoções e sentimentos, Autoestima, Psicossomática, Desenvolvimento pessoal, Neurodiversidade, Stress
Como a Neurociência pode ajudar na superação da ansiedade e do estresse

Como compreender o funcionamento do cérebro é essencial para transformar a forma como lidamos com a ansiedade e o estresse. A Neurociência mostra caminhos reais para o equilíbrio emocional e o bem-estar.

A ansiedade e o estresse são reações naturais do corpo humano diante de situações que exigem atenção, preparo ou defesa. Em níveis equilibrados, essas emoções nos ajudam a enfrentar desafios, tomar decisões rápidas e manter o foco. O problema surge quando o estado de alerta se torna constante, gerando desgaste físico e emocional. É aí que a Neurociência, em conjunto com a Psicologia, oferece importantes caminhos de compreensão e tratamento.

A Neurociência estuda o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso, ajudando a explicar como nossos pensamentos, emoções e comportamentos estão conectados. Quando uma pessoa enfrenta estresse ou ansiedade, áreas cerebrais como a amígdala, responsável pela identificação de ameaças, e o hipotálamo, que regula as reações fisiológicas, são ativadas. Essa ativação prepara o corpo para reagir — acelerando os batimentos cardíacos, liberando adrenalina e aumentando a tensão muscular.

O que deveria ser uma resposta passageira pode se transformar em um estado constante de vigilância. O corpo passa a viver “em alerta”, o que leva ao esgotamento, irritabilidade, insônia e outros sintomas. Entender esse processo é o primeiro passo para desenvolver estratégias de enfrentamento mais conscientes e eficazes.

A Terapia Cognitivo-Comportamental e a Neurociência: uma parceria transformadora

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), abordagem que aplico na prática clínica, tem profunda relação com os achados da Neurociência. Ambas partem do princípio de que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos — e que, ao aprendermos a identificar e modificar esses padrões, é possível mudar também o modo como o cérebro reage às situações.

A TCC, aliada aos estudos da Neurociência, mostra que o cérebro possui neuroplasticidade — ou seja, a capacidade de se reorganizar e criar novas conexões neurais por meio de experiências e aprendizados. Isso significa que, ao mudar a forma de pensar, também modificamos o funcionamento do cérebro, favorecendo equilíbrio emocional e bem-estar.

Durante a terapia, o paciente aprende a reconhecer gatilhos de ansiedade, reavaliar interpretações distorcidas e desenvolver respostas mais realistas e adaptativas. Essa prática fortalece áreas cerebrais relacionadas ao autocontrole e à autorregulação emocional, como o córtex pré-frontal, ao mesmo tempo em que reduz a hiperatividade da amígdala — responsável pelas respostas de medo e alerta.

Como o corpo participa desse processo

O cérebro e o corpo estão em constante diálogo. A Neurociência demonstra que práticas corporais simples podem modular diretamente a atividade cerebral. Técnicas de respiração diafragmática, por exemplo, reduzem a ativação do sistema nervoso simpático e promovem relaxamento. Já a atividade física regular estimula a produção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e endorfina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar.

Outros hábitos igualmente importantes incluem o sono reparador, essencial para o equilíbrio hormonal e a consolidação da memória, e uma alimentação equilibrada, que influencia o funcionamento do eixo intestino-cérebro — comprovadamente ligado à regulação emocional.

Esses cuidados, aliados à psicoterapia, criam um ambiente biológico e emocional favorável à recuperação e à manutenção da saúde mental.

O poder da consciência e da prática

Superar a ansiedade e o estresse não significa eliminar completamente essas emoções, mas aprender a compreendê-las e administrá-las. O tratamento psicológico, orientado pela TCC e apoiado nas evidências da Neurociência, ensina o paciente a identificar padrões mentais automáticos, interromper ciclos de preocupação e fortalecer recursos internos de enfrentamento.

A prática de atenção plena (mindfulness), por exemplo, é uma ferramenta poderosa nesse processo. Estudos em neuroimagem mostram que o mindfulness ativa regiões cerebrais ligadas à calma e à regulação emocional, como o córtex pré-frontal, e reduz a reatividade da amígdala. Assim, o indivíduo passa a responder de forma mais consciente e equilibrada aos estímulos do dia a dia.

Essas transformações cerebrais não acontecem de um dia para o outro. Elas são resultado da constância, do autocuidado e da dedicação no processo terapêutico. Cada sessão de psicoterapia se torna uma oportunidade de aprendizado e reconstrução emocional.

Um olhar integral sobre o ser humano

A Neurociência reforça o que a Psicologia há muito tempo defende: somos um sistema integrado, em que mente, corpo e emoções estão em harmonia constante. Por isso, cuidar da saúde mental é também cuidar do corpo, dos relacionamentos e da forma como lidamos com o mundo.

A ansiedade e o estresse não são sinais de fraqueza — são respostas humanas diante das pressões e incertezas da vida. Com o acompanhamento adequado, é possível reorganizar os circuitos cerebrais, compreender as próprias emoções e desenvolver estratégias mais saudáveis para enfrentar os desafios.

Cuidar da mente é um ato de coragem e de amor-próprio. A Neurociência, ao lado da Terapia Cognitivo-Comportamental, mostra que a mudança é possível — e começa dentro de nós, cada vez que decidimos nos conhecer e nos cuidar.



Por: Dirce Proença – Psicóloga Clínica | Especialista em Neurociências (UNIFESP) | CRP 06/193473

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