Motivação para a Prática de Exercício Físico e Saúde Mental

Autor: Daniela Zamora Morais , 27/11/2023 18:22:31 27/11/2023 18:22:31 (48 visualização)
Motivação para a Prática de Exercício Físico e Saúde Mental

Motivação para a Prática de Exercício Físico e Saúde Mental

Resumo

Com a presente investigação pretendi averiguar os principais fatores motivacionais para a prática de exercício físico, assim como as diferenças desses fatores em relação ao sexo e local de residência, avaliando também a influência da idade e do número de filhos nesses fatores. Objetivou-se ainda relacionar a prática de exercício físico com a saúde mental. Uma amostra de 159 praticantes (43 mulheres e 116 homens) com idades compreendidas, entre os 18 e os 72 anos (M=31.29, DP=11.479), respondeu ao Questionário de Motivação para as Atividades Desportivas (QMAD) e Questionário de Saúde Geral-28 (GHQ-28). Através da Análise Fatorial Exploratória (AFE) definiram-se 3 fatores. As motivações mais valorizadas para a prática de exercício físico foram Sociabilidade/ Orientação para o grupo e Objetivos desportivos e a menos valorizada foi Estatuto/ Reconhecimento. Identificaram-se associações estatisticamente significativas entre os fatores motivacionais Sociabilidade/ Orientação para o grupo, Estatuto/ Reconhecimento e Objetivos desportivos, quando atribuída a covariável idade. Houve diferenças significativas no fator Objetivos desportivos, na covariância com a variável número de filhos. As comparações com base no questionário GHQ-28, foram feitas com base em 4 fatores. Não houve diferenças significativas em função de nenhuma variável independente, sexo e local de residência, nem da covariável número de filhos. Verificaram-se diferenças significativas em função da covariável idade, no fator Disfunção social. Os resultados sugerem que esta população recorre à prática de exercício físico por motivos de saúde.

Palavras-chave: motivação, exercício físico, saúde mental.Introdução

A sociedade moderna, mergulhada em plena “revolução tecnológica”, sofre as sequelas próprias de uma vida dirigida para a produção e para o consumo desmedidos, cuja consequência imediata se faz repercutir ao nível da saúde física e psicológica. É por esse motivo que num contexto social, com tais características, o exercício físico ou o desporto em geral, se impõem como medida preventiva de saúde, essencial para definir um tecido social dinâmico e equilibrado. Assim sendo, estudar os motivos pelos quais as pessoas praticam exercício físico parece-nos da maior importância, para que se possa, de forma eficaz e eficiente, ultrapassar os elementos facilitadores do sedentarismo (Alkahtani et al., 2015; Gratão & Rocha, 2016; Silva et al., 2018).

Estudos sobre exercício físico fazem todo o sentido na sociedade atual, que é cada vez mais sedentária e, consequentemente, mais doente. Segundo Gratão e Rocha (2016) uma das diretrizes da WHO para obter mais saúde, relaciona-se com a prática de exercício físico. Apesar disso, nos últimos dados facultados pelo Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF) em 2017, verifica-se um predomínio da inatividade física em Portugal calculada nos 72% nos adultos, somente 28% cumprem as recomendações da WHO (Silva et al., 2018). Assim sendo, o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para o aparecimento de doenças crónicas e passíveis de serem evitadas através da adoção de comportamentos salutares, as implicações da inatividade física para a saúde representam um sério problema de saúde pública.

A relevância dada a esta temática foi percebida pela Sociedade Internacional de Psicologia do Desporto (S.I.P.D), quando em 2011 elaborou e publicou um estudo, no qual se verificou que existe um decréscimo da atividade física, na faixa etária entre os 10 e os 29 anos, ocorrendo posteriormente um aumento, na faixa dos 30 aos 34 anos e entre os 50 e os 54 anos de idade, no caso do sexo masculino. No caso das mulheres, o estudo apontou uma diminuição da atividade física, na faixa etária entre os 10 anos e os 17 anos, verificando-se um aumento da atividade, até aos 50 anos. Abreu e Dias (2017) verificaram um decréscimo da atividade física a partir dos 65 anos de idade, em ambos os sexos. Estudar a motivação para a prática de exercício físico é importante, pois os benefícios físicos e psicológicos da prática de exercício físico já foram verificados, em todas as faixas etárias e em ambos os sexos (Doré et al., 2016; Schuch et al., 2016). Daí a necessidade de promover a prática regular de exercício físico, cujos benefícios se fazem sentir tanto a nível físico como mental e societal, uma vez que contribui como nenhuma outra medida geral, para satisfazer os critérios de saúde da WHO, que a define como “o bem-estar físico, mental e social do indivíduo”. Em 2017, Abreu e Dias defenderam que é de importância capital o aparecimento de estudos que sistematizem, fundamentem e orientem a sua prática, assim como, para que haja uma maior sustentação das políticas de promoção da saúde, quer a nível regional quer nacional.

  1. 1. Motivação

A motivação é uma espécie de força interna que regula e sustenta, todas as ações humanas e animais dirigidas para a concretização de um fim ou objetivo. De acordo com Oliveira et al. (2018) a motivação é uma interligação de elementos, tais como, a persistência, a aprendizagem, a curiosidade e o desempenho, além de que, na área do desporto, se caracteriza como um dos fatores principais tanto na adesão quanto na continuidade da prática. A motivação é um dos fatores que determinam o comportamento humano, assim como as necessidades psicológicas individuais (amor, segurança, autoestima e realização pessoal), os objetivos pessoais, o ambiente e as influências externas ao indivíduo, como é o caso do apoio social e parental, necessidade de autovalorização e de conquista material (Araújo, 2015; Oliveira et al., 2018; Rego, 1995).

A motivação é definida por Rodrigues (1998), como uma necessidade que resulta em uma disposição fisiológica de privação, resultando por isso um desequilíbrio homeostático no organismo, o indivíduo quando em desequilíbrio tende a repor a homeostase, através da satisfação da necessidade, ocorrendo desta forma, a redução ou anulação da motivação. O autor também destaca e esclarece os conceitos de pulsão, impulso ou drive, definindo-os como o resultado psíquico de uma necessidade ou dependência apreendida, o que vai ter efeito direto, e representa segundo o autor, a intensidade do comportamento motivado. Ou seja, os motivos são os fatores dinâmicos que influenciam a conduta de um indivíduo, consciente ou inconscientemente, na direção de um objetivo (Veigas et al., 2009).

Em 2012, Duarte define motivação como uma variante psicológica que desloca a pessoa para determinada ação, orientação, manutenção, abandono e/ou rejeição das práticas desportivas, normalmente o agrupamento de ideias que as pessoas constroem, associações cognitivas, que as pessoas fazem acerca de determinada situação, e a respetiva, tomada de decisão. Posto isto, se as associações cognitivas forem positivas, a motivação é maior, se forem negativas, a motivação será menor, se as associações cognitivas forem neutras, essa construção cognitiva realizar-se-á pela influência do meio ambiente em que a pessoa está inserida e pelas suas próprias convicções. Segundo Oliveira et al. (2018) a motivação é a força interna que sustenta e direciona o comportamento humano e, consequentemente, as pessoas predispõe-se a adotar um estilo de vida mais ativo, ou seja, valorizando e integrando na sua rotina diária a prática de exercício físico. Os modelos teóricos, que procuram explanar a motivação na prática regular de exercício físico são vários: Modelo de Crenças na Saúde (Rosenstock, 1966), Teoria da Acção Racional (Ajzen & Fishbein, 1974), Teoria do Comportamento Planeado (Ajzen, 1991), Teoria da Auto-eficácia (Bandura, 1986), Teoria dos Objetivos de Realização (Dweck, 1999; Nicholls, 1984, 1989) (Buckworth & Dishman, 2002; Standage et al., 2003) e a Teoria da Auto-Determinação (TDA) (Ryan & Deci, 2000; Sousa, 2009).

Na contracorrente da maioria das teorias sobre motivação, que incidem mais na análise da quantificação total dos fatores motivacionais das pessoas, a TAD de Deci e Ryan não recai no estudo da quantificação da motivação, ao invés disso pretende observar a motivação de uma forma qualitativa, pois os autores acreditavam ser uma análise mais relevante no que concerne ao entendimento do comportamento humano (Deci & Ryan, 2008). O Exercício Físico como fator da elevação do Bem-Estar

A inclusão do exercício físico para a manutenção ou obtenção da saúde e bem-estar das pessoas já não é recente, Vasconcelos-Raposo e Teixeira (2018) identificam esse esforço desde o século XVIII. Vários são os estudos que demonstraram a eficiência da prática de exercício físico enquanto terapia complementar no auxílio da obtenção de um maior grau de saúde mental. Em 2011 autores como Lincoln e colaboradores estudaram em distintas investigações pacientes com ansiedade e verificaram os benefícios da prática de exercício físico (Melo et al., 2014). Num estudo realizado por Teixeira et al. (2016), com uma amostra de 215 participantes, com idades compreendidas entre os 60 e os 100 anos, os resultados apontaram para a existência de diferenças estatisticamente significativas entre a população praticante e não praticante de atividade física, nos domínios da autoestima e depressão. Os mesmos autores citaram um estudo de Cheik et al. (2003) onde os mesmos defendem que a atividade física deve ser considerada como uma alternativa não farmacológica para o tratamento do transtorno depressivo, referindo ainda que a prática tem como benefício acrescido a ausência de efeitos secundários. 

Tendo em conta os estudos que já foram feitos nesta área, não parece existir grande controvérsia entre a comunidade científica quanto à melhoria que advêm da prática de exercício físico, de forma conscienciosa. Por conseguinte, os estudos realizados sobre a saúde mental e o bem-estar dão alguns contributos interessantes para o tema. 

Deste modo, o objetivo principal da presente investigação é perceber quais são os motivos que levam as pessoas a praticar exercício físico, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Por sua vez, os objetivos específicos são:

1. Realizar uma AFE para identificar os construtos motivacionais a serem sujeitos a análises comparativas.

2. (a) Comparar por sexo e local de residência, os motivos para a prática tendo em consideração as covariáveis idade e número de filhos ao nível das variáveis identificadas através da AFE (Sociabilidade/Orientação para o grupo; Estatuto/ Reconhecimento e Objetivos desportivos); (b) Comparar por sexo e local de residência tendo em consideração as covariáveis idade e número de filhos ao nível das dimensões da saúde mental (Sintomas Somáticos; Ansiedade e Insónia; Disfunção social e Depressão grave) e (c) Estabelecer a relação entre prática de exercício físico e saúde mental.

  1. 1.2. Motivações para a prática de exercício físico

Na área do desporto são diversas as designações utilizadas pelos autores, aquando da descrição da prática de exercício físico nos seus estudos, verificando-se a utilização de construtos como prática desportiva, atividade física/ desportiva, iniciação desportiva, entre outros. 

Ao longo de todo o nosso estudo, o conceito que se pretende analisar e que foi considerado na elaboração dos instrumentos, na escolha da amostra e respetiva recolha dos dados amostrais, é o exercício físico.O exercício físico, é entendido como uma expressão da atividade física, uma subcategoria da atividade física, sendo geralmente efetuado numa base de repetição (treino), ao longo de um período extenso, com a definição de objetivos específicos que normalmente pretendem manter ou melhorar um ou mais elementos da aptidão física (Gonçalves et al., 2010).

O conhecimento profundo dos motivos que levam as pessoas a praticar exercício físico é importante, na medida em que possibilita aos técnicos a adequação dos programas de exercício físico às expectativas dos participantes, aumentando assim a sua satisfação e consequente permanência na prática. A observação dos propósitos que levam as pessoas a praticar uma atividade desportiva, iniciou-se na década de 70, com autores como Alderman (1976, 1978) e Alderman e Wood (1976). A primeira análise extensiva sobre motivação foi realizada por Sapp e Haubenstricker (1978) estudaram 1050 participantes, 579 rapazes e 471 raparigas dos 11 aos 18 anos de idade, praticantes de 11 modalidades desportivas e concluíram que os principais motivos foram o divertimento, a melhoria das competências e os benefícios, quer da saúde quer da aptidão física (Duarte, 2012; Januário et al., 2012).

Em 1981, os autores Fry et al., realizaram um estudo, com uma amostra de jovens atletas praticantes de hóquei no gelo, os motivos apontados como mais importantes foram: o divertimento, aumentar a performance desportiva, fazer novas amizades, conquistar troféus, fazer exercício físico e viajar. Gould et al. (1982) inquiriram 365 jovens nadadores de competição, com idades compreendidas entre os 9 e os 18 anos, os motivos para a prática mais mencionados foram o divertimento, a forma e a saúde física, a melhoria das competências, a camaradagem e o desafio. Os motivos referidos pelos sujeitos como menos importantes para a prática desportiva foram: agradar aos outros, acalmar a tensão, ser popular e viajar (Duarte, 2012; Januário et al., 2012). 

Um estudo realizado em 1983, por Gill et al. onde se pretendeu averiguar as razões de 720 rapazes e 418 raparigas, praticantes de 10 modalidades distintas, com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos, para a prática desportiva, concluiu-se que os motivos mais importantes apontados pelos praticantes foram: melhorar as competências, divertimento, aprender novas competências, desafio e ser fisicamente saudável.

Pereira e Vasconcelos-Raposo (2008) realizaram um estudo, com uma amostra constituída por 1295 jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e os 20 anos, tendo concluído que os motivos mais importantes, para os inquiridos foram: estar em boa condição física, trabalhar em equipa, fazer novas amizades, aprender novas técnicas, divertimento, estar com os amigos, fazer exercício e manter a forma. Como motivos menos importantes os participantes desse mesmo estudo apontaram o pretexto para sair de casa, descarregar energias e ter a sensação de ser importante.

Numa investigação realizada por Januário et al. (2012), com uma amostra de 1016 praticantes, 577 do sexo masculino e 439 do feminino, com idades entre os 10 e os 20 anos. As motivações mais valorizadas para a prática desportiva foram aprendizagem técnica/fitness e trabalho de equipa e a menos valorizada foi o estatuto. 

Kondric et al. (2013) realizaram um estudo onde o objetivo era examinar as diferenças na motivação para participar em atividades físicas, numa amostra de 390 estudantes universitários de 3 países diferentes, 262 rapazes e 128 raparigas, a média de idades dos participantes foi de 23 anos. O instrumento utilizado neste estudo foi o Questionário de Motivação de Participação (PMQ), e após a realizarem uma AFE, a mesma deu origem a 6 fatores, tendo sido designados por: ação desportiva com amigos, popularidade, fitness e saúde, status social, eventos desportivos e relaxamento através do desporto. Os autores não encontraram diferenças estatisticamente significativas na motivação dos participantes mais novos em relação aos mais velhos.

Gratão e Rocha (2016), numa investigação com 1784 praticantes de corrida, de ambos os sexos, de idades diversas, concluíram que as cinco dimensões da motivação significativamente relevantes para os participantes foram: divertimento, competência, aparência, fatores sociais e saúde. Os resultados mostraram que os participantes eram bastante motivados nas cinco dimensões. Em termos descritivos, a saúde foi considerada a dimensão mais importante, tanto para correr como para participar de eventos. Num estudo realizado por Fragoso et al., em 2017 com o objetivo de analisar os motivos para a prática tendo em conta a variável idade, com uma amostra de 90 pessoas, todas do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos, atletas de futebol, foram divididos por três grupos de idade, não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos grupos etários. Num estudo realizado por Oliveira et al. (2018), com uma amostra de 101 praticantes de judo do sexo masculino, de diversas idades, tendo em conta a generalidade da amostra, as dimensões motivacionais para a prática do judo apresentaram-se com a seguinte ordem decrescente de importância: prazer, saúde, sociabilidade, controle do stress, estética e competitividade. 

Após a revisão teórica, parece ser possível concluir que, em geral, as investigações apontam como principais fatores motivacionais para a prática de exercício físico o divertimento, o desenvolvimento de competências, a afiliação e a saúde/forma física. Os motivos referidos como menos importantes, na maioria dos estudos, são a descarga de energias, a realização/ estatuto e a influência de pais e amigos. Todavia, descrever apenas os motivos que levam à prática de exercício físico, não fornece informação suficiente para os distinguir em função de características diferenciadoras da população. As características diferenciadoras, que serão tidas em conta no nosso estudo são o sexo, o local de residência, a idade e o número de filhos dos praticantes. Vasconcelos-Raposo et al. (1996), concluíram que os motivos para a prática desportiva mais assinalados pelo sexo masculino se relacionavam, na sua maioria, com o fator mestria/condição física, no caso das raparigas, a maioria indicou o fator amizade/ divertimento, como o motivo mais importante. Em relação à idade, os mais velhos concederam maior importância à afiliação, enquanto os mais jovens mencionaram como mais importantes os aspetos mestria/ condição física. Em 2005, Machado et al. estudaram uma amostra de 102 jovens, com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos, os autores concluíram que os sujeitos do sexo masculino indicaram como motivo principal para a iniciação desportiva, motivos relacionados com a saúde, enquanto o sexo feminino referiu o divertimento. Praticantes de natação, mais novos, com idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos, apontaram como principais motivos para a atividade física: fazer amizades, ultrapassar desafios e divertimento (Rebelo & Mota, 1994). Numa investigação, com uma amostra de 60 praticantes de aeróbia, com idade entre os 12 e os 51 anos, concluiu-se que as raparigas de idade inferior a 19 anos valorizavam mais os motivos relacionados com a forma física e o prazer (Afonso et al., 2001). Em 2012, Januário et al. identificaram associações estatisticamente significativas em função do sexo e da idade, os aspetos que assumiram maior importância, para ambos os sexos, foram a aprendizagem técnica/fitness e o trabalho de equipa.

Na seguinte seção iremos apresentar uma revisão teórica de estudos efetuados onde o exercício físico é tido como um fator possivelmente influenciador no nível de bem-estar dos sujeitos. 

 

  1. 1.3. O Exercício Físico como fator da elevação do Bem-Estar

A inclusão do exercício físico para a manutenção ou obtenção da saúde e bem-estar das pessoas já não é recente, Vasconcelos-Raposo e Teixeira (2018) identificam esse esforço desde o século XVIII. Vários são os estudos que demonstraram a eficiência da prática de exercício físico enquanto terapia complementar no auxílio da obtenção de um maior grau de saúde mental. Em 2011 autores como Lincoln e colaboradores estudaram em distintas investigações pacientes com ansiedade e verificaram os benefícios da prática de exercício físico (Melo et al., 2014). Num estudo realizado por Teixeira et al. (2016), com uma amostra de 215 participantes, com idades compreendidas entre os 60 e os 100 anos, os resultados apontaram para a existência de diferenças estatisticamente significativas entre a população praticante e não praticante de atividade física, nos domínios da autoestima e depressão. Os mesmos autores citaram um estudo de Cheik et al. (2003) onde os mesmos defendem que a atividade física deve ser considerada como uma alternativa não farmacológica para o tratamento do transtorno depressivo, referindo ainda que a prática tem como benefício acrescido a ausência de efeitos secundários. 

Tendo em conta os estudos que já foram feitos nesta área, não parece existir grande controvérsia entre a comunidade científica quanto à melhoria que advêm da prática de exercício físico, de forma conscienciosa. Por conseguinte, os estudos realizados sobre a saúde mental e o bem-estar dão alguns contributos interessantes para o tema. 

Deste modo, o objetivo principal da presente investigação é perceber quais são os motivos que levam as pessoas a praticar exercício físico, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Por sua vez, os objetivos específicos são:

1. Realizar uma AFE para identificar os construtos motivacionais a serem sujeitos a análises comparativas.

2. (a) Comparar por sexo e local de residência, os motivos para a prática tendo em consideração as covariáveis idade e número de filhos ao nível das variáveis identificadas através da AFE (Sociabilidade/Orientação para o grupo; Estatuto/ Reconhecimento e Objetivos desportivos); (b) Comparar por sexo e local de residência tendo em consideração as covariáveis idade e número de filhos ao nível das dimensões da saúde mental (Sintomas Somáticos; Ansiedade e Insónia; Disfunção social e Depressão grave) e (c) Estabelecer a relação entre prática de exercício físico e saúde mental.

 

- Principais Conclusões

As principais conclusões que retiramos do nosso estudo relativamente aos fatores motivacionais a que os participantes da amostra mais dão importância para o seu envolvimento na prática de exercício físico, é que os mesmos têm um caráter eminentemente extrínseco, sendo o fator que explica a maior percentagem de variância total, Sociabilidade/Orientação para o grupo.

Nas análises comparativas em relação às variáveis independentes utilizadas, sexo e local de residência, não constatamos diferenças significativas em nenhum dos fatores motivacionais, o que não está de acordo com astendências da revisão da literatura.

Assim no que se refere ao QMAD, há diferenças estatisticamente significativas, nas análises adicionais de covariância, da idade e número de filhos. Relativamente à idade, há valores estatisticamente significativos nos 3 fatores motivacionais, Sociabilidade/ Orientação para o grupo, Estatuto/Reconhecimento e Objetivos desportivos. No que se refere à covariável número de filhos, as diferenças estatisticamente significativas ocorrem no fator Objetivos desportivos.

Relativamente à relação entre a prática de exercício físico e a saúde mental dos praticantes, encontramos diferenças estatisticamente significativas no fator Disfunção social quando se atribui a covariável idade.

Finalmente, algumas limitações do presente estudo devem ser reconhecidas. Por um lado, o recrutamento de praticantes de um concelho exclusivo impede a generalização de resultados dada a homogeneidade amostral produzida. Todavia, nenhuma destas generalizações é pretensão deste estudo. Por outro, consideramos que o nosso estudo contém limitações devido ao facto de alguns grupos submetidos a comparações não serem homogéneos, podendo levar a conclusões desacertadas ou irrealizáveis. Em futuras investigações, sugere-se a utilização de uma amostra de maiores dimensões. Estudos futuros podem também implementar metodologias que privilegiem o cruzamento de outras eventuais influências dos “novos” fatores ambientais, integrando várias fontes, como por exemplo, sessões de treino/aulas realizadas através do uso de aplicações de smartphones e/ou redes socias acedidos na internet. Por outro lado, o tema investigado carece de estudos longitudinais mais recentes, que abranjam diferentes faixas etárias e comparem diferentes amostras, de modo a documentar as interações ao longo do desenvolvimento humano. Em suma, a maioria dos estudos que abrangem amostras de tamanho significativo, remetem-se normalmente a escalões etários escolares. 

 

(Se tiver interesse em ter acesso à secção da Metodologia, Resultados, Discussão e Referências Bibliográficas do artigo, entre em contacto com a autora.)

 

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